Workshop Pintura Aquarelável
“Não deve ser difícil a você parar algumas vezes
para olhar as manchas de uma parede,
ou as cinzas de uma fogueira,
ou as nuvens, a lama
e outras coisas no gênero nas quais...
vai encontrar idéias verdadeiramente maravilhosas”
– Leonardo da Vinci
Jaguatirica - 30x40cm (workshop no Bia Atelier de Artes - Macaé-RJ)
para a querida Beatriz
para a querida Beatriz
O artista ao longo da história sempre percorreu dois caminhos, um de busca pela técnica que pudesse realizar e concretizar aquilo que imaginava e outro pela materialidade das coisas, identificando a capacidade latente do material .
A materialidade se faz presente desde a pré-história, quando alguém enxergou na qualidade plástica do barro, um jeito de moldar um jarro, e armazenar água, a materialidade do barro refletiu uma necessidade do homem. Michelangelo ao esculpir dizia libertar o ser que já existia no mármore, e não fazia do mármore um ser, ele já estava lá, esperando ser descoberto. O homem faz arte para atribuir sentidos às coisas.
“Michelangelo achava que dentre todas as artes, a mais próxima de Deus era a escultura. Deus havia criado a vida a partir do barro, e o escultor libertava a beleza da pedra. Segundo ele, sua técnica consistia em libertar a figura do mármore que a aprisiona “ ( Carol Strickland – Arte Comentada -2004, p.36)
Assim entendemos que a matéria tem algo a comunicar a partir de seu "próprio ponto de vista". Segundo Ferreira Gullar em “A argumentação contra a morte da arte”(1993), a linguagem da arte não se constitui apenas de signos ( imagens, sinais) mas também de não signos (matéria). Percebemos, compreendemos, criamos e nos comunicamos, sempre por intermédio de imagens e formas.
No workshop de pintura aquarelável demonstro como a aplicação das cores, que pode ser uma escolha aleatória, da mesma foram que já pode construir uma base para o que desejamos realizar. Os passos são simples, interferindo na imagem, visualizando onde colocaremos a nossa figura, estudando a cor que será utillizada, pois o realismo está no desenho, a cor é uma representação lúdica, imaginária!
Utilizaremos tanto a tinta diluida como áreas brancas, que trazem maior luminosidade e leveza ao trabalho, basta soltar a imaginação, e viajar como na música:
AQUARELA (Composição: Vinícius e Toquinho)
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cair num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva norte e sul
vou com ela viajando o Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela branco navegando
é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
E se a gente quiser... Ele vai pousar.
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra eu consigo passar num segundo
giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
e depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia em fim
Descolorirá...
O PROCESSO DE CRIAÇÃO
Há dois aspectos do processo de criação, por um lado ele necessita ser leve, solto e isento de compromissos de trabalho; por outro lado ele necessita de dedicação e empenho, o que significa muito trabalho no fazer artístico, e nem por isso resulta num trabalho "não-criador", mas compreende-se que a técnica não deve suplantar a criação, ela é um meio, e não arte em si mesma.
A expressão artística é construída por nossas experiências, pelo conhecimento adquirido e transmitido pelos sentidos e pela consciência. Essa experiência pode ser interna (nossos processos interiores) e externa (nossos sentidos físicos). Assim o imaginativo se realiza ao se fazer concreto, sem essa finalidade não é um imaginar criativo, pois não cria nem produz nada, reduz-se a meras suposições alienadas da realidade externa.
No exercício de monotipia (aqui a pintura aquarelável) partirmos de algo preexistente (as manchas coloridas) para identificarmos uma realidade e concretizá-la, expressando formas, contornos, figuras. Realizamos a percepção de um significado e construímos uma imagem. Estamos expressando os nossos sentimentos através da pintura e o seu simbolismo relacionado a qualidade da água, que representa os nossos fluxos, o suor, a lágrima, etc. Agrega as coisas um valor subjetivo.
Crescer, saber de si, descobrir seu potencial e realizá-lo é uma necessidade interna. A obra de arte é uma resposta a vida vivida, o artista trabalha com toda a sua sensibilidade e com toda a sua experiência de vida, em conjunto com a sua experiência artística, que é o que eu estou hoje demonstrando para vocês .
"A arte é uma conquista de si, para si. A sensibilidade é a fonte da criatividade espontânea"
(Fayga Ostrower – Acasos e Criação Artística).